Devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus, a organização do espetáculo cancelou apresentações
Ansiosas, pequeninas mãos colocariam as vidraças em movimento. Agitados, cintilantes olhares repousariam sobre as figuras diminutas da plateia. Orgulhosas, agudas vozes entoariam os versos que já ecoam no imaginário: “Vem, vem cantar a alegria de viver”.
Em 2020, quando o maior gesto de comunhão é a distância, as mãos se recolherão, os olhares se encurtarão, as vozes se calarão. Afinal, tendo em vista a pandemia provocada pelo novo coronavírus, a Comissão Central de Organização da Cantata Natalina decidiu pelo cancelamento das apresentações.
Previstas para ocorrer entre os meses de novembro e dezembro, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro e em São Paulo, além do Distrito Federal, elas exaltariam a felicidade que perpassa o milagre do Natal, por meio de uma narrativa tecida sobre o sentimento experimentado por Maria ao entregar-se aos desígnios de Deus. Por isso, seriam norteadas pelo evangelho de Lucas – de onde foi retirado o lema para a 14º edição do evento: “Feliz aquela que acreditou” (1, 45).
Excepcionalmente, porém, a reflexão acerca dos valores e das emoções inerentes ao festejo não tomará as arquibancadas, as janelas, as ruas e os palcos que, avistados por espectadores comovidos, lhes preparariam para celebrar, na noite de 25 de dezembro, o verdadeiro sentido da data. Afinal, como ponderaram aqueles que, por todo o ano, se debruçam sobre o espetáculo, não haveria melhor forma de vivenciar a fraternidade, em meio ao cenário pandêmico, que evitando quaisquer aglomerações.
Além disso, diante da incerteza acerca de quando e como se dará a retomada das atividades pedagógicas presencias e, especialmente, das atividades extracurriculares, também não se consegue vislumbrar a possibilidade de realização dos sequenciais ensaios que culminam com as apresentações protagonizadas por educandos matriculados nas diferentes instituições de ensino Notre Dame.
A mesma insegurança envolveria o reconhecimento e o exercício das canções que compõem o roteiro artístico do espetáculo pelas crianças e pelos adolescentes matriculados na rede pública de ensino – que emprestam as suas vozes às apresentações realizadas em Passo Fundo, por meio de parceria com a Secretaria Municipal de Educação. Comunicado acerca do cancelamento, o secretário Edemilson Brandão enfatizou a expectativa de que este vínculo seja reatado, tendo em vista os próximos natais. “Que pena! Mas é plenamente justificável, sobretudo pelo grande público que assiste. Vamos manter sempre viva essa parceria que é um orgulho para toda a cidade”, frisou.
No município, outro fator considerado é o bem-estar dos baixos, barítonos, contraltos, sopranos e tenores que compõem o Coral Adulto do espetáculo, uma vez que boa parte dos voluntários se enquadra, devido à faixa etária, no grupo de risco para a Covid-19 – de modo que devem evitar ao máximo o contato social e, consequentemente, a participação em atividades recreativas presenciais.
A preocupação com a saúde, que nos afasta para que protejamos uns aos outros, é a mesma partilhada pelas autoridades passo-fundenses, que se mostram compreensivas diante do circunstancial cancelamento da Cantata Natalina – como demonstra o prefeito, Luciano Azevedo. “Compreendo e me solidarizo com a decisão, embora, enquanto passo-fundense, lamente. É uma decisão sensata”, exclamou.
A coordenadora da Comissão Central de Organização do espetáculo, Irmã Maria Pin, ressalta, no entanto, a esperança de que a 14ª edição do evento seja apresentada em 2021. “É difícil, mas necessário, cancelarmos as apresentações de 2020. No próximo ano, porém, a alegria de viver será cantada com mais entusiasmo”, vibra a religiosa, agradecendo a artistas e espectadores, a colaboradores e prestadores de serviços, a apoiadores e patrocinadores, por tornarem possível a realização do espetáculo.